segunda-feira, 9 de setembro de 2019

FILOSOFIA (HOLÍSTICA) QUE NOS INSPIRA: STÉPHANE LUPASCO


"Se você conseguir inverter todas as suas realidades, descobrirá novos e fantásticos mundos bem mais bonitos e acolhedores do que aquele que em está a viver agora."

Stéphane Lupasco
 Filósofo
(1900-1988)

QUEM FOI STÉPHANE LUPASCO?

Stéphane Lupasco nasceu em Bucareste no dia 11 de Agosto de 1900. A sua família pertencia à antiga aristocracia moldávia. O seu pai foi um advogado e político, mas foi sua mãe, pianista e aluna de César Franck, foi a responsável pela mudança da família para Paris em 1916. Após terminar sua educação básica no Lycée Buffon, ele estudou Filosofia, Biologia e Física na Sorbonne e, mais tarde, Direito. Lupasco também participou activamente na vida artística e intelectual de Paris nas décadas de 20 e de 30 do século XX, vindo a defender sua tese de doutoramento em 1935.

Em 1946, Lupasco foi nomeado Investigador Assistente no Centre National de la Recherche Scientifique, um posto que foi obrigado a abandonar devido à inabilidade do Centro em decidir qual a Secção Científica correspondente ao seu trabalho. Os dez ou quinze anos seguintes foram de grande aceitação pelo seu trabalho por parte do público e de outros pensadores, mas não, infelizmente, pelos lógicos e filósofos mais populares do meio académico-científico. A sua obra "Trois Matières" ("Três Matérias"), publicada em 1960, foi um bestseller, e o público passou a tratar Lupasco como o Descartes, o Leibniz, o Hegel do século XX, um novo Claude Bernard, um novo Bergson, etc. Ele continuou a publicar os seus livros nos anos 1970 e 1980, sendo o último "L’Homme et ses Trois Ethiques" ("O Homem e suas Três Éticas"), em 1986, apenas dois anos antes de sua morte em 7 de Outubro de 1988, em Paris. Um prémio da Academia de Artes e Ciências dos Estados Unidos em 1984 esteve entre as poucas honras recebidas por Lupasco em vida. 

Lupasco foi um dos membros fundadores do Centro Internacional de Pesquisas e Estudos Transdisciplinares (Centre International de Recherches et Etudes Transdisciplinaires - CIRET), fundado em Paris em 1987 por Basarab Nicolescu, Edgar Morin, René Berger, Michel Random além de outras figuras centrais da intelligentsia francesa. Como Nicolescu recordou mais tarde, Lupasco foi profundamente afetado pela resistência obstinada da comunidade académica em aceitar um debate honesto para discutir seus novos princípios e postulados, e é com amargura compreensível que Lupasco viu nessa resistência um outro exemplo da actuação mesma dos seus princípios.

Foi um dos subscritores da célebre Declaração de Veneza de 1986 (resultante de um colóquio realizado na Fundação Giorgio Cini, realizada entre os dias 3 e 7 de Março de 1986).

O estilo de Lupasco enquanto escritor não é dos mais fáceis, e requer ininterrupta atenção do leitor. Não é incomum encontrar períodos de quase uma página de extensão, contendo múltiplas orações aninhadas. A sua escrita é extremamente densa em termos de ideias e do significado de cada frase sucessiva, e contém somente alguns poucos exemplos ilustrativos ocasionais. Lupasco faz muitas referências às suas publicações anteriores, infelizmente, sem apresentar adequada indexação. Tal como notou Nicolescu, a exclusão de Lupasco da vida académica francesa resultou tanto em vantagens quanto em desvantagens: Lupasco libertou-se das limitações do ensino e da publicação de trabalhos de pesquisa num formato rígido, e ele, obviamente, não viu necessidade disciplinante de aplicar o fornecimento de referências para as suas fontes. No livro "Psychic Universe", publicado quando Lupasco tinha setenta e nove anos de idade, o leitor não encontra qualquer tipo de informação acerca de estudos, então correntes, em psiquiatria. (Lupasco infelizmente não lia inglês muito bem, e por isso referências à "antipsiquiatria" de Ronald Laing e Gregory Bateson, tão próxima em espírito a seu próprio trabalho, não foram encontradas.) Um estudo recente feito por Brenner (2008) actualiza o trabalho de Lupasco e mostra a sua relevância às questões actuais no campo da ciência e filosofia, assim como na lógica.

Lupasco não foi bem apresentado pelos (poucos) exegetas  que olhavam de perto o seu trabalho. Apenas um livro, da autoria do sociólogo Marc Beigbeder, apresenta tanto uma descrição substancial da teoria de Lupasco quanto um desenvolvimento da mesma como uma "lógica da sociedade". Uma monografia breve, escrita pelo filósofo Benjamin Fondane, que data de 1944 (pouco antes de sua deportação e morte), foi publicada em 1998 e discute as supostas limitações da visão de Lupasco no que se refere à afetividade e à ontologia. Um livro publicado por um obscuro artista Inglês, George Melhuish, utiliza ideias de Lupasco para desenvolver o seu próprio conceito de estrutura do Universo, uma leitura simpática, mas não muito rigorosa de sua obra. O autor deste artigo tinha uma dívida com Nicolescu em virtude do acesso a estes e vários outros textos da sua biblioteca pessoal, os quais, de outra forma, permaneceriam totalmente indisponíveis. Um entendimento completo da análise de Lupasco a esses precursores — que André Glucksmann chamou de "Les Maîtres Penseurs", isto é, Kant, Hegel, Schopenhauer e Marx - deve ser procurado em vários livros diferentes. A atenção do leitor é recompensada, no entanto, por reformulações regulares de Lupasco das suas teses básicas, muitas vezes expressas, nessas revisões, de maneiras muito mais económicas, significativas e coerentes.

Na sua introdução ao livro "Princípio de Antagonismo e Lógica da Energia", de Lupasco, Nicolescu aponta a perfeita acessibilidade da linguagem do autor, uma vez que o leitor ultrapasse as (relativamente poucas) fórmulas matemáticas do livro. "A obra exemplifica, de forma auto-referencial, os aspectos ternários de 'potencialização', 'actualização' e 'terceiro incluído' que lhe dão o charme e o privilégio de encantamentos que são ao mesmo tempo científicos, filosóficos e poéticos".

Resumindo brevemente, estimulado pelos trabalhos de Einstein e pela Mecânica Quântica, Lupasco fundou uma nova lógica, questionando a Lei do terceiro excluído — tertium non datur —, um princípio da lógica clássica. Ele introduziu um terceiro estado, indo além do Princípio da Dualidade, o estado-T. O estado-T não é 'actual', nem 'potencial' (categorias que substituem no sistema de Lupasco os valores "verdadeiro" ou "falso" da lógica bivalente padrão), mas uma resolução dos dois elementos contraditórios num nível mais elevado da realidade ou complexidade. Lupasco generalizou a sua lógica para incluir física e epistemologia e, sobretudo, uma nova teoria da consciência.

Deve-se a ele a Teoria da Trialética, que está na origem da  Triskle - o símbolo oficial do Movimento Holosista.

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