O QUADRO CENTRAL
Porque estamos aqui aqui aqui aqui?
perguntam esses anjos que acordam dentro de mim.
Porque descemos por dentro da tua carne recheada de sonhos e carícias?
Porque acordamos nas tuas mãos ligadas à boca que deseja.
O Mundo em forma de SIM?
E achas que eu sei? Perguntei
Antes nada sabia e agora nada sei.
Descemos para vir fazer a pequena e a grande ligação
arranjar o quadro central do universo, unir o que está disperso
e dar graças ao amor, o único eletricista
capaz de ligar o circuito interior
do grande colosso em forma de coração.
Consegues? Sentir a ligação? Consegues ou não?
Tu és o teu próprio cientista (disse o anjo estelar
secreto especialista em poesia cardiovascular)
deixa que te mostre o direito e o avesso do princípio ao fim
(e, num segundo, ligou o circuito celular
do Mundo em forma de SIM).
Antes destes anjos, nada sabia e agora nada sei
mas posso dizer que andei perdido e sondei
as pessoas do mundo em forma de NÃO:
fala-me sobre amor; e elas falaram de coração partido
fala-me sobre pertencer; e elas mostraram as marcas da exclusão
finalmente, fala-me sobre ligação; e elas falaram de dor da separação.
Quando preparava a minha última ceia, a via láctea derramou
o seu branco luminoso em cada meu canal, em cada minha veia
e nada de nada é fortuito, pensei, e reparei no inverso
do universo espelhado no curto-circuito.
Consegues sentir a ligação? Consegues ou não?
Não tenhas vergonha, disse ela segurando a minha mão
a vergonha é o medo da separação;
o medo não ser não merecer não pertencer não queiras
ser nada a não ser a ligação ligação ligação
nada a não ser uma parte do todo fecundo
que somos nós todos ligados
ao grande SIM do mundo.
PAULO CONDESSA
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