quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

POEMAS E TEXTOS HOLOSISTAS QUE NOS INSPIRAM: "OS DIALÉTICOS DO MEDO" DE EDMUNDO SILVA (2021)

 


OS DIALÉTICOS DO MEDO

Esta é a franja heterogénea dos descontentes
cujas metáforas são sonos virulentos e de salsugem
como o Al Berto sonhava nas suas ruas de luas e sonhos
febres escalonadas ao gosto da iludida filosofia
qual bramante silêncio de um leito flagrante de insatisfeitos.

Doses homeopáticas de medo reclamam-se para o mundo
empaturrando o desconhecido com versos de sombra invisível
como todos os suicidas quando falam da impossibilidade do poema
e nas cinzas escrevem as epopeias ao íntimo sonho declaradas
como se fossem dormentes mistérios que a terra em lava
desfolhasse.

É a dialética da sensibilidade ao medo como signo de intimidade
a elegia do arrepio compactado em semióticas reveladas
como uma compensação ao delírio das palavras sentidas
nesse horizonte de loucos livros que ensina o sonho 
a sonhar as rebeliões do poema quando arma de revelação. 

A insalubre pretensão deste verbo é um estado ébrio de ilusões 
cujos códigos se confundem com a sonolência dos incautos arautos
que resignados falam do incerto como a patologia do estranho 
esse leito onde os ínfimos trejeitos da penúria mental 
se engalanam quais suspiros de uma filosofia mendicante.

Este é o impacto distópico dos aluados cujo horizonte é vedado 
como uma insónia colectiva que à poesia intriga indolente
cunhada tão longe das loucuras intransigentes destes ébrios 
inconscientes que da vontade da consciência brilha serena 
a liberdade de se escolher a coragem de os não seguir. 

EDMUNDO RIBEIRO DA SILVA

Janeiro 2021

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