OS DIALÉTICOS DO MEDO
Esta é a franja heterogénea dos descontentes
cujas metáforas são sonos virulentos e de salsugem
como o Al Berto sonhava nas suas ruas de luas e sonhos
febres escalonadas ao gosto da iludida filosofia
qual bramante silêncio de um leito flagrante de insatisfeitos.
Doses homeopáticas de medo reclamam-se para o mundo
empaturrando o desconhecido com versos de sombra invisível
como todos os suicidas quando falam da impossibilidade do poema
e nas cinzas escrevem as epopeias ao íntimo sonho declaradas
como se fossem dormentes mistérios que a terra em lava
desfolhasse.
É a dialética da sensibilidade ao medo como signo de intimidade
a elegia do arrepio compactado em semióticas reveladas
como uma compensação ao delírio das palavras sentidas
nesse horizonte de loucos livros que ensina o sonho
a sonhar as rebeliões do poema quando arma de revelação.
A insalubre pretensão deste verbo é um estado ébrio de ilusões
cujos códigos se confundem com a sonolência dos incautos arautos
que resignados falam do incerto como a patologia do estranho
esse leito onde os ínfimos trejeitos da penúria mental
se engalanam quais suspiros de uma filosofia mendicante.
Este é o impacto distópico dos aluados cujo horizonte é vedado
como uma insónia colectiva que à poesia intriga indolente
cunhada tão longe das loucuras intransigentes destes ébrios
inconscientes que da vontade da consciência brilha serena
a liberdade de se escolher a coragem de os não seguir.
EDMUNDO RIBEIRO DA SILVA
Janeiro 2021
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