segunda-feira, 31 de julho de 2017

quinta-feira, 27 de julho de 2017

~

Louvor do Esquecimento

Bom é o esquecimento.
Senão como é que
O filho deixaria a mãe que o amamentou?
Que lhe deu a força dos membros e
O retém para os experimentar.

Ou como havia o discípulo de abandonar o mestre
Que lhe deu o saber?
Quando o saber está dado
O discípulo tem de se pôr a caminho.

Na velha casa
Entram os novos moradores.
Se os que a construíram ainda lá estivessem
A casa seria pequena de mais.

O fogão aquece. O oleiro que o fez
Já ninguém o conhece. O lavrador
Não reconhece a broa de pão.

Como se levantaria, sem o esquecimento
Da noite que apaga os rastos, o homem de manhã?
Como é que o que foi espancado seis vezes
Se ergueria do chão à sétima
Pra lavrar o pedregal, pra voar
Ao céu perigoso?

A fraqueza da memória dá
Fortaleza aos homens.

Bertold Brecht, in 'Lendas, Parábolas, Crónicas, Sátiras e outros Poemas'
Tradução de Paulo Quintela  

quarta-feira, 26 de julho de 2017

POETAS HOLOSISTAS QUE NOS INSPIRAM (RUI MANUEL GRÁCIO DAS NEVES)


ESTAR

Estou.

Simplesmente,
estou.

Sim?
Não acredito!

Em realidade, 
passo
e passo
e volto a passar.
No entanto,
agarro-me.

Sou a angústia do agarrar, 
porque se sente cair no abismo
no abismo que não é Nada,
e onde, 
portanto, até agarrar-me é uma ilusão,
um supremo Auto-engano.
Mas, 
agarro-me.

Porém,
também a ilusão faz parte da Realidade, 
somente
uma maneira diferente de encará-la,
de focá-la.

Mal-vivemos na ilusão do Agarrar-se, 
dos apegos, 
dos aferramentos,
procurando, 
algures,
o Permanente.
Mas o Permanente
não mora em Nenhuma-Parte.

É o mistério 
do Permanente Passar, 
No silêncio transcendental,
intuído,
no vazio da plenitude.

Passar,
Passar,
sem procurar
o que já estar.
Sem me agarrar.

E, 
por isso,
simplesmente,
aqui estou,
mais além de mim próprio,
porque, 
em realidade,
eu 
também 
não 
existo.

RUI MANUEL GRÁCIO DAS NEVES

A REALIDADE, SEGUNDO UM ÍNDIGO (Matias De Stephano)


Mathias De Stephano revela uma diferente abordagem daquilo que nós, seres humanos, modernos e materialista, entendemos sobre o Homem, a Natureza, a Alma, Deus e o Universo, por parte de um jovem que representa a clarividência, o conhecimento e a sabedoria deste novo tempo, que começou a despertar lentamente dentro de cada um de nós, e cada vez mais.

É a realidade deste momento, Aqui e Agora, e para o futuro. TUDO NO TODO!!!

TIAGO MOITA.

EGO E EU VERDADEIRO: PRINCIPAIS DIFERENÇAS


POETAS HOLOSISTAS QUE NOS INSPIRAM (RON LAMPI)


A PALAVRA

Somente falada: a palavra
frequentemente, nós ouvimos o seu murmúrio -
é uma voz que deseja despertar-nos
é a memória da nossa renovação
                  desejo da nossa alma,
uma manifestação de tudo para ser chamado
                                             das profundezas.

Fora do mar, uma palavra
anunciando o seu verdadeiro destino.
o destino imediato é semi-enterrado
                                 na areia -
nós nas conchas que dormem.

Sobre uma costa resistente nós dormimos 
o por que é tão duradouro precisa dormir?
mas nós sonhamos...

Com o som do mar que ecoa
         até
escutamos a palavra do nosso despertar 
ao mesmo tempo, uma voz murmura
suavemente nos nossos ouvidos...

RON LAMPI

PINTORAS HOLÍSTICAS QUE NOS INSPIRAM (AKIANE KRAMARIC)


O Estúdio de Akiane Kramarik

(Akiane Kramaric Studio)

PINTURA HOLÍSTICA QUE NOS INSPIRA: LUMINICENT ART ("CAT IN WATER" de Daria Khoroshavina)


"Cat in Water"

Daria Khoroshavina

ESCULTURAS HOLÍSTICAS QUE NOS INSPIRAM: SAYAKA KAJITA GANS


"ABOVE: EMERGENCE"

Sayaka Kajita Gans

Sayaka Kajita Gans é um artista japonês que utiliza utensílios de cozinha descaracterizados recicláveis, brinquedos e artigos de metal e transforma-os em esculturas emotivas, onde o etéreo e o material se cruzam numa simbiose perfeita. O estilo artístico dele é denominado Art-Sci.

TIAGO MOITA.

segunda-feira, 24 de julho de 2017





As Ilhas Afortunadas





Que voz vem no som das ondas
Que não é a voz do mar?
É a voz de alguém que nos fala,
Mas que , se escutamos, cala,
Por ter havido escutar.
E só se, meio dormindo.
Sem saber de ouvir ouvimos.
Que ela nos diz a esperança
A que, como uma criança
Dormente, a dormir sorrimos.
São ilhas afortunadas,
São terras sem ter lugar.
Onde o Rei mora esperando.
Mas, se vamos despertando,
Cala a voz, e há só o mar.





Fernando Pessoa

quarta-feira, 12 de julho de 2017




O charco 12/7/2017

Sabedoria Zen...
A mente deve ser como um charco de água, deve estar parada, calma, silenciosa, para refletir a claridade...
Se tiver muitos movimentos o charco fica sujo, opaco, confuso.
Um charco parado é uma mente desperta.
Uma mente quieta pode ver as coisas como elas são, vazias, como uma clara manhã de surpresa constante.
Talvez aí resida a Beleza...
Amar é não julgar, não mexer a mão no charco.
Tudo é amor, o charco calmo da claridade e da beleza...
E assim a surpresa de viver sucede-se, em sucessivas e súbitas cenas de encanto.
Vemos então que a Beleza e o Amor sempre ali estiveram.
No charco parado.
Vemos então que o charco é um espelho.
O espelho de nós mesmos...
Do mundo exterior e do mundo interior.
Infinito,
De Beleza, Pureza e Amor...


Marco Oliveira

terça-feira, 11 de julho de 2017

Acerca da meditação...






Frases Zen para inspiração súbita...
Milénios de sabedoria em simples sentenças.
Um clique no link:

https://www.facebook.com/decretossaintgerman/videos/1588739361144665/








Porque é necessário limpar o olhar, ver além da poeira da inércia e da ilusão, aqui vai o excerto de um artigo de Paulo Borges bem a propósito...




"O egocentrismo que faz com que o centramento do desejo no bem do sujeito, individual ou coletivo - entendido como uma posse de algo que não traga já oculto em si, só suscetível de descobrir por uma profunda transformação interior -, o torne dependente das projeções que faz do objeto do desse desejo, que tende a reificar e divinizar como a entidade exterior da qual depende toda a sua felicidade (ao mesmo tempo que tudo o que se oponha, a esse objeto e à felicidade do sujeito que se crê dele depender, é implicitamente diabolizado, pelo reverso do mesmo fenómeno que é a aversão).
A religiosidade, neste sentido, e enquanto não for suficientemente depurada pela razão crítica e analítica, está na origem de todas as formas de idolatria e conflito que frequentemente se substituem à, ou confundem com a, religião propriamente dita, tal como esta, igualmente idólatra, tende a confundir as suas visões conceptuais e dogmáticas do divino ou da iluminação com a experiência-cume de que falámos. É assim que podemos observar, ao longo dos tempos, e talvez mais visível e predominantemente hoje em dia, a divinização do dinheiro e da riqueza, do sucesso profissional, desportivo e político, do sucesso intelectual, sentimental e sexual, da transformação social, política e económica, e bem assim de imagens do divino, do paraíso ou da espiritualidade construídas à medida dos desejos e aversões, dos medos e expetativas, de uma humanidade e de uma mente que, num assomo extremo de materialismo, tão mais grave quanto espiritual, tudo quer possuir sem que nada aceite sacrificar, preferindo alimentar a esperança vã de que o mundo se transforme, por um golpe da fortuna, por um milagre da Providência ou por uma qualquer New Age astro-cosmológica, a assumir a tarefa árdua de lançar mãos à inevitável tarefa da transformação interior. Cabe aqui lembrar como até hoje sempre morreram frustrados todos aqueles que esperaram o advento histórico e exterior de um mundo ideal, em vez de terem investido na transformação interior que lhes permitiria, limpando a poeira dos próprios olhos, ver melhor o mundo e, a partir daí, beneficiarem realmente os seus próximos."

Paulo A. E. Borges - Religião, Religiosidade e Espiritualidade na Perspetiva do Budismo in Revista Consciências - Centro Transdisciplinar de Estudos da Consciência - 2005 - Universidade Fernando Pessoa
"Consciousness and the world relate like two knives sharpening each other."

"A consciência e o mundo relacionam-se como duas facas afiando-se uma à outra."



"One can only observe what one can experience."

"Só podemos observar o que podemos experimentar."



"One can say that the state of one consciousness at present defines our world, that is what we can perceive and understand."

"Podemos dizer que o estado da nossa consciência no presente define o nosso mundo, isto é o que nós podemos perceber e compreender."



"Our world", the one we perceive, is in fact the result of the accumulated experiences that consciousness has had. One will speak of experiences and tendencies accumulated through many lifetimes."

"O nosso mundo, aquele que percebemos, é enfim o resultado de experiências acumuladas que a consciência teve. Devemos falar de experiências e tendências acumuladas através de muitas vidas."


Excertos do artigo "A beginningless universe" de Matthieu Ricard in Revista Consciências, Centro Transdisciplinar de Estudos da Consciência, Universidade Fernando Pessoa, 2005


Matthieu Ricard (nascido em 1946) é um monge budista que reside no Mosteiro Shechen Tennyi, Tennyi Dargveling, no Nepal.



Graças à meditação que levou a cabo durante vários anos é considerado pela ciência como o homem mais feliz do mundo devido a uma massa encefálica muito acima da média que cresceu precisamente através da meditação em ideais elevados.


A meditação leva-nos além do tempo e do espaço, para o aqui e agora sem começo nem fim...






quinta-feira, 6 de julho de 2017

Música para viajar enquanto se criam e vêm mundos novos... Philip Glass...





A história de um homem, num dia normal...


Índio – 22/9/2016

A noite começa e tudo se acalma no escuro claro da consciência.

A cidade dorme, de olhos fechados nas fachadas, nas estradas molhadas, no nevoeiro leve que sobe das calçadas pisadas.

Assisto a tudo isto do canto da minha alma, tomando um chá e brindando ao infinito.

Desliguei a televisão inútil.

Desliguei o trabalho de caça níqueis.

Sou agora imperador do tempo todo, da noite toda.

Subo aos sonhos do que sinto pelos caminhos da minha mente percorrendo um interno labirinto.

Fecho os olhos e estou longe, a mil milhas daqui, numa floresta densa com troncos de árvores erguidos como braços.

Caminho como um guerreiro só, descalço, sobre as pedras e as ervas dispersas.

Pertenço a uma tribo de caras desconexas que se reúne à noite para dançar em transe a festa da lua vaga enquanto a fogueira arde.

Ouvimos as histórias do velho pajé que jura a pés juntos que já fora muitos.

Quando acaba o barulho das pessoas, regresso à minha cabana.

Ela dorme na cama, é lenta a sua respiração.

Sonha húmidos desejos que se esfumam em imagens baças com gente e gritos dentro.

Deito-me com ela e fico feliz, olhando da janela a lua magra e o relento lento.

Algumas velas na mesa, acesas e silenciosas, trémulas de meia-noite fugindo repentinas do esvoaçar de sombras invisíveis.

Há gente aqui…

Deixo os minutos passarem como instantes que apenas deixo ser, despercebidos e sem pensamentos junto.

As velas ardem.

Ela dorme silenciosa, morna e doce como a tepidez do lençol que desliza por entre a macieza da sua pele.

Passo a minha mão na sua perna.

E sinto-me feliz.

A lua dorme quieta e morna.

Enche-se devagar a emanar prata reluzente.

Nuvens como farrapos negros passam.

Penso por vezes que fui lobo, algures lobo, correndo pela floresta permanentemente, pelas pedras e pelas ervas, em noites como esta, por selvas, selvas luxuriantes a mil milhas daqui…

A mil milhas daqui bem agora na minha consciência enquanto bebo chá e brindo ao infinito e estou acompanhadamente só nesta casa.

Desliguei a televisão inútil.

Desliguei o trabalho de caça níqueis.

Sou agora imperador do tempo todo, da noite toda, noite que se abre a mim enquanto fecho os olhos e vou subindo, pelos sonhos líquidos do que sinto, pelos caminhos da minha mente em que me minto percorrendo um interno e longo labirinto.

E sou agora um outro.

...O que voa de noite e salva pessoas...

Ele sobe a prédios e olha as ruas em redor iluminadas a vago século vinte e um.

Do alto do prédio vê e espera dentro do frio da noite pela mudança do vento.

Olha o tempo que faz depois de dormir, enquanto os corpos dormem jazendo em camas pré-fabricadas espalhados pelas dezenas de edifícios em redor, vê tudo isso estendendo o olhar sem nada sentir.

Os sonhos dos que dormem são feitos de pedra e betão, de passos e de desejos dando em nada na fumarada do mundo vão.

E vê no seu olhar a abrir…

Tantas pessoas agarradas ao chão…

Do alto do prédio ele vigia, espera o vento mudar.

Olha a lua magra no céu emanando um reluzir de prata lembrando a recordação de que sempre aqui esteve.

Esta imagem lentamente a desfocar no seu olhar vidrado…

Sou este agora, diz na ausência da hora, o que salva pessoas…

E o vento muda de repente e soa-lhe a algo... 

A alguns quilómetros dali está gente.

Gente que vai num automóvel, fumando e bebendo, a música do rádio demasiado alta, grita-se e canta-se lá no interior da viatura, álcool e drogas, a estrada atravessando-se no olhar cansado do condutor, é jovem, uns vinte anos mal dormidos, sorri e canta e é demasiado sensível nos ouvidos, olha a namorada que vai do seu lado e bebe da garrafa de Vodka mais um trago alucinado…

De repente, sem avisar, uma luz forte de um camião gigante atravessa-se em frente, o camião buzina como um navio partindo do cais. Um choque violento…

... As pessoas despedem-se no cais acenando...

O automóvel fica desfeito e os dois no interior estão dormindo depois de pele demasiado branca.

Do alto do prédio ele voa e atravessa a noite e a floresta e a estrada e tudo passa e alcança vendo apenas linhas brancas tracejantes.

Chega perto da viatura desfeita.

O homem do camião fala ao telemóvel chorando e gritando pela ambulância, rápido, rápido… A sua voz rouca e espessa como quem nunca dormiu e vive entre as urzes da vida.

O homem que salva pessoas entra na viatura, atravessa-a e fala com o jovem transido que saiu do corpo inanimado de pele demasiado branca.

"Como estás? Sabes onde estás agora?" 

E o jovem alcoolizado está tonto, é todo alma apenas, girando na confusão de querer fugir e de novo cumprir penas, olha estupefacto para o seu próprio corpo inanimado e branco na viatura…

E foge como um gato assustado.

Foge e corre como alma desvairada e corre e corre pelo cinzento alcatrão da estrada, sob a noite dos penedos e da lua magra, uivando de dor por não saber mais nada, que não há morte que é apenas o seu corpo físico que jaz inanimado na estrada…

A sua namorada acorda do seu sono de alma jovem e olha para o seu próprio corpo inanimado com o olhar espantado.

A sua face branca...

"Mas onde estou?"

Exclama com voz doce e o olhar aguçado de surpresa.

O homem que salva pessoas é transparente como ela, aproxima-se lento como uma luz e de voz confiante vai-lhe explicando que a fase no mundo denso tem um fim mas que no fundo não existe fim para a consciência que está sempre evolucionando.

E pega-lhe na mão transparente e pede-lhe paciência, agora ela está num mundo novo, o mundo daqueles que partiram, paciência, muitos para aqui subiram…

Ela olha o homem que salva pessoas e sente um vento quente na cara.

As árvores na escuridão abanam lentas…

O homem denso do camião está inconsolável, de telemóvel inútil na mão a desejar o fim do sofrimento, porque é que tudo é pagável quando não se paga o lamento…

É naquele instante que a ambulância aparece.

E os corpos inanimados são levados pelas macas como algo que se esquece.

Começa a chover…

O homem que salva pessoas não sabe do paradeiro do jovem alcoolizado.

O jovem fugiu pela estrada, transparente, correndo como uma sombra silente pelo alcatrão cinzento, sob o rugido dos penedos e o tinir da prata da lua magra reluzente, evanescendo uma palidez de pátria ausente e dormente.

O jovem foge e foge como quem foge e ruge de si permanentemente.

A noite o acompanha por entre os ciprestes, por entre os risos dos espíritos esfomeados e os braços dos ramos silvestres numa ausência de momentos estilhaçados…

E o tempo passa arrastando lento mil desejos.

Parou de chover...

Algumas horas depois o sol nasce, irrompem os raios de luz das montanhas.

Iluminam-se os penedos e os lajedos na distância.

O esquecimento cobriu toda a madrugada.

O homem que salva pessoas regressou a voar ao alto do prédio.

O vento é ameno agora.

A jovem namorada lá ficara com a sua alma penada albergada num pequeno templo.

Era um templo coríntio, feito de luz e amor, com gente boa desencarnada e iluminada para tratar dela, olhando-a levemente como sedas deslizando na janela.

E tudo se esfumou num sonho de olhos abertos.

E sou agora o mesmo, no mesmo lugar onde ontem estive.

Acordado na cama onde o relógio electrónico ainda vigora.

Vejo-o na mesa de cabeceira impondo o ritmo às formigas caça níqueis que andam lá fora.

Nas ruas, nas cidades, por todo o lado em bandos procurando o alimento para o corpo, que adiado sobrevive dia-a-dia sem uma luz de amor de graça dado que lhe dê sentido a não ser consumir e produzir como um castigo.

E penso se um dia será possível dizer a toda a gente, que os sonhos que temos de madrugada são frescas memórias da morada onde de facto se vive alegremente.

O dia começa e tudo se acalma no escuro claro da consciência.

A cidade lentamente acorda, de olhos estremunhados nas fachadas, nas estradas molhadas, no nevoeiro leve que sobe das calçadas das madrugadas.

Ele levanta-se da cama e vai lutar.

Seis e meia, é altura de ir trabalhar…



Marco Oliveira
in "Breves Contos Modernos" - Artelogy - 2017




"Se queres contar as histórias que ainda não foram contadas, se queres dar voz aos que não têm voz, tens de encontrar uma linguagem. Isto serve para os filmes e também para a prosa, para o documentário como para a autobiografia. Usa a linguagem errada, e és estúpido e cego."

- Salman Rushdie





"Depois do silêncio, aquilo que está mais perto de expressar o inexprimível é a música."

- Aldous Huxley







“...que busca? Tal vez busca su destino. Tal vez su destino es buscar..."

- Octávio Paz






Diz René Huyghe em "O Poder da Imagem":




"Qual o objetivo que os artistas procuram alcançar na criação das suas obras?
Reproduzir e, de certo modo, captar a natureza e os seus espetáculos fugidios, fundar uma ordem nova que é a Beleza, ou ainda exprimir no mundo visível o que vive dentro de si, sentindo-o, existindo?"


Só o/a artista saberá...







"Por um jogo superior que se ultrapassa, o artista procura exprimir-se a fim de comunicar aos outros aquilo de que se sente detentor. A arte é essencialmente uma linguagem, e, na medida em que se atribuiu a missão de comunicar, o artista precisa de se servir de alusões ao que os outros podem conhecer ou reconhecer. Fá-lo-á por reproduções, por sinais ou por símbolos e, enquanto uma linguagem falada recorre às palavras de um dicionário, ele terá de utilizar imagens de todos os dias - uma árvore, uma figura, ou uma prática convencional."





"O escritor utiliza o vocabulário e a gramática estabelecidos, mas a sua magia consiste em elevá-los à beleza de que são suscetíveis; o prosador e o poeta só serão grandes na medida em que transpuserem o limiar que dá acesso à música, ao encantamento, ao feitiço do verbo."




"Do mesmo modo, o artista emprega as linhas e as cores para provocar um prazer especial, que por vezes será tão pleno que parecerá bastar-se a si próprio."




"A linguagem da arte é um esforço do homem para se revelar aos outros. Ela dispõe de uma base - a experiência visual da realidade, que se pode reduzir, é um fato, ao estado de recordação longínqua, de alusão; tem uma estrutura, que lhe cria a beleza harmónica; e está submetida a uma função essencial, que é estabelecer uma comunicação entre os homens, quer dizer, entre os espectadores e um artista que sente de maneira diferente, com mais intensidade, qualidade, originalidade  e que, como tal solicita a atenção dos outros, enriquecendo-os com o eco da sua própria vida interior."




René Huyghe in "O Poder da Imagem" - Edições 70


quarta-feira, 5 de julho de 2017


Video elucidativo de uma mudança de paradigma a fazer na sociedade contemporânea.
É só clicar para mudar a forma de pensar: O segredo do Agora...

https://www.facebook.com/UniversoRacionalista/videos/1335793239870896/

CINEMA HOLÍSTICO QUE NOS INSPIRA: "MINDWALK - O PONTO DE MUTAÇÃO" DE BERNT AMADEUS CAPRA (1990)


"MINDWALK - O PONTO DE MUTAÇÃO"
DE BERNT AMADEUS CAPRA (1990)

Num mundo em chamas, lutando por encontrar uma solução para o beco sem saída que esta crise provocada pelo ego do Homem nos conduziu ao estado a que a nossa civilização chegou, existem filmes como este que podem servir de inspiração para quem faz da mudança não uma bandeira mas um archote no coração e Utopia, um farol iluminado no horizonte.

Este filme é baseado no livro homónimo de Fritjof Capra, traz um embate entre os pensamentos de uma física, desiludida com os rumos que a sua profissão tomou, um político bem sucedido nos E.U.A que, no entanto, acaba de perder a eleição para Presidente e, por último, um poeta que está recém-casado e se encontra numa crise de meia-idade. É na discussão travada entre essas personagens que se desenrolará a história do filme.

O filme apresenta discussões relevantes que permeiam o mundo científico, só que o modo como os diálogos se conduzem, apesar de exigirem mais atenção, não se constitui algo enfadonho. Todas as questões levantadas suscitam naquele espectador mais atento, uma série de questões, principalmente referentes à Ciência Moderna. 

Direcção: Bernt Amadeus Capra.

(O filme é legendado em Português)

Tiago de Vasconcelos e Moita.

POESIA QUE NOS INSPIRA: SUZAMNA HEZEQUIEL

A DÁDIVA DO PERDÃO DA DÚVIDA; O FIM DA DÍVIDA

Escrevo. Acendo a água da memória com archotes de azeite. Não "imolo" o coração à palavra; isso é para os poetas.- Caminho, poesiva, criança que tropeçou no obituário da justiça, estrela de cinco pontas entortadas pela inércia da magia. Marcho a história do corpo ampulheta, que se quer livre da areia. Poderia até deslizar sobre cadeiras de rodas desdentadas, que marcharia. Da morte nunca houve medo: visagem de um átimo; só das dores dos condutos vazios: eis o luto. O luto - sempre longo - pelo penar dos aflitos que a alma transporta no transtempo; das idiodoenças que lhes diminuíram a lava. Escrevivo-a. Escreverdo-a. Excransmuto-a na aldeia da simdade terramoto. Na aldeia das frieiras é urgente qualidade de vida com sustenta-habilidade; o regresso ao lume contador de histórias, sem CO2 ou Carbono 14. Porque tudo é memória; até amnésia: suzamnésia. Até o não poema; a não exaltação da palavra; inclusive os fósforos. Palavras são fósforos. Vamo-nos num fósforo. Somos uma caixa de fósforos. Às vezes acendo-os de uma vez só e pronuncio-me em segredo. Também as borboletas são lume e deixam rasto. Agora sou duas tochas à entrada da biblioteca do meu quarto. Agora sou a biblioteca a arder como asas de monarca

: ser poesia

Suzamna Hezequiel
"Pudorgrafia"
Texto Sentido
2015

Um sonho que tive...


Lusa Luz – 7/7/2016

O sonho somos nós, imersos na água…

Num mar de desejos minha alma afogava.

Oculto sol transpareceu e, de súbito, o mar de desejos foi-se desvanecendo como uma névoa.

Fiquei só acompanhado com o universo olhando a terra ardente.

De repente, dentro do silêncio, deixo de estar solitário na saudade...

Meu barco encalhou junto à praia lá pelas ondas do mar.

Nas areias quentes daquele dia vi muita gente.

E exatamente à minha frente, o tempo parou.

Sinto-me num agora quieto, cheio de mudez e de espanto.

Do meu olhar em frente, para o universo imenso, uma torre de súbito subiu.

Era feita de luza glória, era o que Henrique construiu, cavaleiro puro da ancestral glória.

Por Santiago naquela doce alvorada subiu a torre em rósea escada.

Olhamos daqui o outro tempo no outro mundo junto à escada que subia um cubo de pedra rumo ao sol.

E tudo se abriu numa manhã gloriosa nesse dia, por entre as névoas na rosa espiralada que era a torre que subia.

Além, agora e aqui de corpo dormido, meu sonho vai num voo transido que me ofusca a alma ao lume.

Pela doce serenidade, equilibrando os meus passos num fio de fumo, alcanço agora a outra cidade, a sua brisa profunda esfria-me a cara de espanto e sorriso, não escuto vivalma, todo o redor se foi a sonhar em faróis quedos na praia da noite escura.

O que somos, Henrique rei, é arremedos de cavaleiros debaixo de uma outra lei.

O que somos, Henrique navegador, é ser para ir, além do mar e dos sonhos, pobres cavaleiros da luz na ilha do amor.

Acordei e Portugal era o outro lado do sol…
Falava-se entre amigos.



Marco Oliveira
Braga, 4/7/2017